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quinta-feira, 2 de abril de 2015

A copel e a história que posso contar

COPEL (1) – uma empresa que é parte de uma história de orgulho dos paranaenses
Entrei na Copel (2) em 11 dezembro de 1968 iniciando um caso de paixão profissional que resiste ao tempo apesar da atuação do Governo Federal a partir da década de noventa do século passado, quando simplesmente, via uma constituição federal equivocada, tiraram a autonomia dos estados em seus serviços essenciais, exceto naqueles que a União deixou com desdém para os componentes desse sistema presidencialista ruim para todos (3).
Comecei estagiado em Maringá e Apucarana, ganhando convicção dos meus defeitos e virtudes. Época dos geradores diesel e falta de conhecimentos profundos sofri os efeitos da ignorância, inclusive passado o Nata de 1988 todo cheiro de pequenas queimaduras de óleo diesel, cuja fuligem cobriam o entorno dos caixotões das máquinas, sobre as quais mergulhei seguindo fios de automação.
Ontem, 31 de março, o assunto foi sustentabilidade em uma reunião do LCC Batel; a nostalgia do que vi e participei na COPEL foi imediata, até porque ouvia afirmações que me preocupavam. Hoje, olhando o portal da empresa, a eterna constatação de que a história é escrita e reescrita ao sabor dos poderosos de plantão, que pena!
A Copel tem uma bela história que deveria ser registrada sem paixões políticas.
Já ao final da década de sessenta, trabalhando em suas usinas e subestações (testes e laboratório), via a preocupação severa da companhia na sustentação de matas e florestas em torno dos seus reservatórios, algo de grandes dimensões que contava até com um laboratório de piscicultura na serra junto ao reservatório da Usina de Capivari Cachoeira (4) ao final de sua construção realizada pela ELETROCAP (5).
Em Campo Mourão o Lago Azul (6) apareceu com o que hoje chamariam de PCH (7), infelizmente os agrotóxicos que lá chegavam começavam a poluir um lugar que deveria saudável. Lá, contudo, um enorme canteiro de mudas de árvores contribuía para o reflorestamento onde fosse necessário e, pessoalmente, gastei meses com uma excelente equipe em diversos trabalhos extremamente interessantes com suas máquinas e desafios.
Já naquela época a área de distribuição produzia um manual de como escolher e plantar árvores nas cidades, infelizmente pouco usado pelas prefeituras. Hoje, graças à Usina de Campo Mourão e à paixão do povo desta cidade pelo lago formado existe um parque estadual para preservação ambiental.
No início de 1973, por aí, recebi um telefonema da CEEE, o interlocutor dizendo, nesses termos: “Dr. João Carlos, estamos lhe enviando os alevinos que pediu”. Pedi desculpas informando que ele estava falando com o João Carlos errado e, pela primeira vez atinei para a preocupação da empresa em relação ao peixamento de rios e reservatórios.
A Usina de Salto Grande do Iguaçu (8), hoje submersa pelas águas de Foz do Areia (9), era outro ponto de canteiros o que se repetiu em Foz do Areia, com proporções muito maiores. Essa usina foi uma grande escola para todos nós que a vimos nascer e submergir nas águas de Foz do Areia. Naqueles tempos poucos imaginavam o crescimento vertiginoso do consumo de energia elétrica que viria a acontecer.
A encampação da Companhia de Força e Luz do Paraná trouxe mais usinas (hoje seriam PCHs) e linhas de transmissão assim como a conexão à ANDE um bocado de experiências técnicas extremamente interessantes. Naqueles tempos (1973) o CCOI (10) começava a estudar estabilidade de sistemas de potência; em Foz do Iguaçu/Acaray aprendemos na prática o que isso significava, sem contar a interligação com a CESP em Londrina (oscilava permanentemente num sistema quase linear que ia até o Rio Grande do Sul) e até dentro de nosso sistema em Júlio de Mesquita Filho, mais ainda na Subestação de Campo Comprido onde fora instalado um compensador síncrono que teimava fugir de sincronismo e víamos em seus ponteiros a ação da Marion (11)...
Na RMC um parque de preservação ambiental em plena serra e Mata Atlântica reforçava a área dedicada à fauna e flora já existente e a recuperação de usinas utilizadas ao extremo foi o desafio dos anos seguintes. A distribuição de energia elétrica em Curitiba seria uma oportunidade maior, travada, contudo, pelos anos perdidos na crise econômica excessivamente longa em que nosso país mergulhou.
A Terra das Araucárias ampliava seus espaços de agricultura e pecuária, gerando cidades que precisavam de luz e água (SANEPAR), assim grupos geradores diesel (ALCO e GM) assim como PCHs e menores foram absorvidas pela COPEL (12), dando muito trabalho e poucos MWh. A criação da malha de transmissão com linhas de 138 kV (a princípio) e subestações relativamente grandes foi o passo ousado e bem sucedido para a estabilização de um sistema que oscilava e tinha apagões quase diários, algo que a instalação de uma coleção de relés de frequência (GE e BBC) acabou penalizando, contudo, cargas eleitas para desligamento.
As instalações da Petrobras foram nossa referência de qualidade, afinal teriam enormes prejuízos se ficassem mais que 2 segundos sem eletricidade...
O Paraná (e o sul do Brasil) ganhou o Load Shedding e eu faturei minha dissertação de mestrado na UFSC (1974).
Na Usina de Segredo (13), em função de estudos ambientais ainda pioneiros a Copel construiu uma vila e relocou moradores; junto à vila de seus operadores (eram tempos sem automação e telessupervisão) a Copel fez mais, um enorme conjunto de tanques para peixamento (14) do Rio Iguaçu e laboratório além de um museu com artefatos indígenas encontrados em seus trabalhos com usinas.
A ao final dela a complementação com a água do Rio Jordão, ou seja, graças a um túnel de 4,9 km e quase 1 metros de diâmetro o complexo Segredo + Jordão ganhou 50 MW Médios de energia. Algo equivalente ou maior do tínhamos com Capivari Cachoeira, infinitamente mais cara. Projeto simples, rápido mas carente de bons projetistas e executores. A Copal soube fazer esta.
A Usina de Salto Caxias teve um processo de intensas negociações que a precedeu, culminando com um cenário positivo para os habitantes locais (15) e desenvolvimento de novos padrões na Copel, desde opções técnicas a novas formas de comissionamento e relacionamento com os atingidos pela barragem.
Na Presidência da COPEL tínhamos consciência da importância de abrir o capital da empresa. De alguma forma ela precisava ter mais sócios que criassem alternativas de investimentos e maior estabilidade diante de qualquer cenário político, assim 1994 (16) foi um ano de Road shows, palestras e explicações que tiveram sucesso e mantêm a empresa dentro de limites sensatos (17).
O desafio era enfrentar um novo quadro institucional.
Lamentavelmente os paranaenses não tiveram forças para resistir a um processo centralizador de decisões federais perdendo muito a partir da Legislação Nacional, sempre atenta a interesses distantes (18).
Gradativamente, contudo, por efeito de um modelo que esvaziou a autonomia do estado do Paraná para decidir sobre suas necessidades e futuro energético a Copel precisou inibir inciativas importantes para o Paraná, entre elas a participação no SIMEPAR (19), LAC, LAME e CEHPAR (hoje LACTEC) e vive um cenário ditado por tecnocratas distantes. Ou seja um serviço essencial ao povo paranaense depende de leis e decretos feitos até por capricho de governantes via as famigeradas Medidas Provisórias.
Esses ambientes de P&D e serviços especiais eram muito importantes para a segurança e qualidade de serviços, mas caíram na vala comum da alienação nacional. Foram obrigados a ceder diante do império de leis e decretos feitos sob medida para as conveniências de quem mandava n0o Brasil.
O SIMEPAR e a criação de sistemas corporativos de informação vieram de encontro a deficiências clássicas da empresa no momento certo em que a Tecnologia e os desafios operacionais o exigiram. Logo no início de meu mandato como Diretor de Operação da Copel precisei tomar decisões extremamente importantes sobre a operação das usinas do Rio Iguaçu, com destaque para Foz do Areia; o que me surpreendeu foi a precariedade do sistema de aquisição de dados no eixo em que se investira bilhões de dólares e colocava em risco a vida de milhares de pessoa, era simplesmente ridículo. Paralelamente o desespero de conversar com os nossos “pilotos”, escravos de programas antediluvianos. Assim recebi espontaneamente a visita do engenheiro Nelson Gomez, atual presidente do Instituto de Engenharia do Paraná. Pessoa diligente, criativa e trabalhadora trouxe o connect (intranet) iniciando uma transformação radical de procedimentos na COPEL, que além disso instalava circuitos de cabos de fibra ótica até nas linhas de alta tensão (OPGW0. Pouco mais adiante o engenheiro Marcos Lacerda apareceu ao lado do eng. Rogério Moro com um estudo para implantar o que viria a ser o SIMEPAR, que maravilha” completamos assim após um calvário de ações de cooptação e promoção que fez da Copel uma referência nacional, só não muito melhor pela incapacidade de algumas lideranças, rotina!
Ainda manda um pouco mais na COMPAGAS [ (20), (21), , que escapou por muito pouco de ser mais uma concessionária licitada pela União a partir de janeiro de 1995. Felizmente antes dessa data fatídica pudemos criar a COMPAGAS, apesar das atravessadas da PETROBRAS e pressão de parceiros privados.
Mais uma vez a lura para criação de uma concessionária tremendamente estratégica à otimização do quadro energético do Paraná. Poderia ter sido criada antes, não o foi perdendo oportunidades de ouro para a contratação privilegiada de gás. A mediocridade não tem limites.
Na Companhia Paranaense de Energia muitos trabalhos foram geradores de cultura técnica que até hoje dão resultados. A empresa automatizou instalações e criou sistemas de supervisão usando seus próprios recursos humanos após contratar e ter um excelente Centro de Operação do Sistema, implementou um belíssimo Programa de Qualidade Total, a partir de 1991 começou a usar a intranet (Connect) gerando programas corporativos inovadores com PCs (388 e 488 à época), tinha um excelente Centro de Treinamento e, acima de tudo, aprendeu a negociar democraticamente os seus projetos.
O Paraná ainda tem a COPEL, uma holding que pode fazer muito mais. Se existe uma razão para defender a COPEL é a sua competência técnica (lamentando sempre os PDVs feitos para quê?) capaz de apoiar associações com outros grupos de empreendedores, bastando a empresa se descolar da “vocação” energética. Bons engenheiros sabem que as leis da Natureza não mudam, não existe moto perpétuo e adquirem sólidos conceitos de custo-benefício. Com a vigilância cada vez mais eficaz da sociedade organizada ou não, institucional ou de mercado, sentimo-nos seguros de ver com satisfação e potencial da Companhia Paranaense de Energia, valendo até mudança de nome, se necessário. Poderia acrescentar ao termo Engenharia a palavra “Infraestrutura” sem mudar o nome fantasia: COPEL (22).
O povo atento e usando todo o arsenal hoje existente de vigilância poderá inibir a demagogia e a desonestidade, o que faltou à PETROBRAS e a Operação Lava Jato mostra para nossa tristeza dia a dia.

Cascaes
1.4.2015


1. Políticas de governo e empresas públicas (1948-1963). [Online] Memória da Eletricidade. [Citado em: 1 de 4 de 2015.] http://www.memoriadaeletricidade.com.br/default.asp?pag=5&codTit1=44360&pagina=destaques/linha/1948-1963&menu=381&iEmpresa=Menu#44360.
2. COPEL. [Online] http://www.copel.com/hpcopel/root/index.jsp.
3. Cascaes, João Carlos. O irredento. [Online] http://o-irredento.blogspot.com.br/.
4. Usina Parigot de Souza. COPEL. [Online] http://www.copel.com/hpcopel/root/nivel2.jsp?endereco=%2Fhpcopel%2Froot%2Fpagcopel2.nsf%2F044b34faa7cc1143032570bd0059aa29%2F08013ddc621f4eed03257412005ed73b.
5. COPEL Informações - Ano II - Edição Especial - Número 9 - fevereiro 1971. [Online] Companhia Paranaense de Energia Elétrica, 2 de 1971. http://www.copel.com/ci/antigas/ci_revista009.pdf.
6. Parque Estadual Lago Azul. [Online] Prefeitura Municipal de Campo Mourão. [Citado em: 1 de 4 de 2015.] http://campomourao.pr.gov.br/turismo/parques.php.
7. USINA HIDRELÉTRICA MOURÃO I - Relatório Ambiental. [Online] COPEL – GERAÇÃO GESPR/SPRGPR/EQGMA, 29 de 6 de 1999. http://www.copel.com/hpcopel/root/pagcopel2.nsf/arquivos/relambientalmou/$FILE/RelAmbientalMOU.pdf.
8. História da Copel. [Online] COPEL, 2015 de 3 de 2014. http://www.copel.com/hpcopel/root/nivel2.jsp?endereco=%2Fhpcopel%2Froot%2Fpagcopel2.nsf%2F0%2F6505401715872FAA032573FA0069734F.
9. Usina Bento Munhoz da Rocha Netto. [Online] COPEL, 21 de 1 de 2014. http://www.copel.com/hpcopel/root/nivel2.jsp?endereco=%2Fhpcopel%2Froot%2Fpagcopel2.nsf%2F044b34faa7cc1143032570bd0059aa29%2Fe307f2c9b2edc56303257412004fdb91.
10. Rodrigues, Eustáquio José. SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO Estrutura, Funcionamento, Instituições e e Perspectivas para o Controle. [Online] BIBLIOTECA 24 horas, 12 de 2011. https://books.google.com.br/books?id=Y7z1dHaDxzAC&pg=PA40&lpg=PA40&dq=ccoi+eletrobras&source=bl&ots=yQvMkQ_bAh&sig=Nj66csDNnY_bD5DeffckzCuN9O0&hl=pt-BR&sa=X&ei=eV0cVeFtya-CBPjJgvgC&ved=0CCoQ6AEwAg#v=onepage&q=ccoi%20eletrobras&f=false.
11. Gomes, Adriano. OLHE A MARION EM AÇÃO. Portal Siderópolis . [Online] https://www.google.com.br/search?q=escavadeira+marion+sideropolis&biw=1680&bih=917&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=8mAcVaGMA4GxggSa3YGICA&ved=0CCMQsAQ#imgdii=_&imgrc=0JzFqG8HsHfLRM%253A%3BnUo8BTz2-aJlGM%3Bhttps%253A%252F%252Fradiosidera.files.wordpress.
12. A história da energia no Paraná. [Online] Paraná on line, 28 de 10 de 2004 - atualizado em 2013. http://www.parana-online.com.br/editoria/cidades/news/98360/.
13. Notícias, Agência Estadual de. Usina hidrelétrica completa 20 anos em plena atividade. [Online] 10 de 10 de 2012. http://pr.ricmais.com.br/economia/noticias/usina-hidreletrica-completa-20-anos-em-plena-atividade/.
14. Agostinho, Prof. Dr. Angelo Antonio. ctiologia e Aqüicultura Experimental para o Reservatório da Usina Hidrelétrica de Segredo. [Online] NUPELIA. Realizado março/93a jul/99. http://www.nupelia.uem.br/inicio/projetos/segredo.
15. Roman, Fabio Luiz e Souza, Mariângela Alice Pieruccini. Análise do Impacto Socioeconômico da Usina Hidrelétrica de Salto Caxias nos municípios lindeiros ao Reservatório . [Online] UNIOESTE; . http://www.unioeste.br/campi/cascavel/ccsa/VIIISeminario/PESQUISA/ECONOMIA/ARTIGO_75.pdf.
16. Cascaes, João Carlos. COPEL 1994 . Minha história na COPEL e na condição de consultor. [Online] http://minha-historia-na-copel.blogspot.com.br/2015/04/copel-1994.html.
17. A COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA COMO INSTITUIÇÃO DE FOMENTO A GESTÃO ESTRATÉGICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NO PARANÁ NOS ÚLTIMOS 50 ANOS. III CONCISA. [Online] http://anais.unicentro.br/concisa/iiiconcisa/pdf/resumo_149.pdf.
18. Lourenço*, Gilmar Mendes. ECONOMIA PARANAENSE: RESTRIÇÕES CONJUNTURAIS E AVANÇOS ESTRUTURAIS. [Online] FAE, 1999. http://www.simepar.br/site/internas/conteudo/institucional/index_historico.shtml.
19. SIMEPAR - histórico. [Online] SIMEPAR. [Citado em: 1 de 4 de 2015.] http://www.simepar.br/site/internas/conteudo/institucional/index_historico.shtml.
20. COMPAGAS. COMPAGAS. [Online] http://www.compagas.com.br/.
21. COMPAGAS COMEMORA 20 ANOS COM EXPECTATIVA DE FATURAMENTO DE 2,4 BILHÕES EM 2014. [Online] http://www.compagas.com.br/index.php/noticias-rodape/289-compagas-comemora-20-anos-com-expectativa-de-faturamento-de-2-4-bilhoes-em-2014.
22. Resgatando a história da Copel - pode ser muito maior se o Governo federal deixar e o povo do Paraná quiser. O Copeliano. [Online] 1994. http://ocopeliano.blogspot.com.br/2013/12/resgatando-historia-da-copel.html.


quarta-feira, 1 de abril de 2015

COPEL 1994